Advogado Adriano Gonçalves

direito para quem não sabe seu direito

Direito à Habitação da Esposa

O direito real de habitação do cônjuge no Brasil é um instituto previsto no Código Civil que visa proteger a moradia do cônjuge sobrevivente. Este direito é importante para garantir que o cônjuge não seja privado de seu lar após o falecimento do outro cônjuge. A seguir, detalho os principais aspectos desse direito:

Código Civil – Artigo 1.831

 

Direito Real de Habitação: O artigo 1.831 do Código Civil estabelece que o cônjuge sobrevivente tem direito real de habitação sobre o imóvel destinado à residência da família, independentemente do regime de bens adotado no casamento. Esse direito é vitalício e só será perdido se o cônjuge sobrevivente vier a se casar novamente ou constituir uma união estável.

Condições para o Exercício do Direito Real de Habitação

 
  1. Imóvel destinado à residência da família: O direito de habitação aplica-se apenas ao imóvel que servia de residência para a família. Não se estende a outros imóveis que possam fazer parte do patrimônio do falecido.

  2. Imóvel único: Esse direito é assegurado desde que o imóvel seja o único utilizado como residência da família, excluindo-se outros bens imóveis que possam existir.

  3. Vitalício e intransferível: O direito de habitação é pessoal e intransferível, não podendo ser vendido, cedido ou alugado pelo cônjuge sobrevivente.

  4. Extinção: O direito de habitação cessa caso o cônjuge sobrevivente se case novamente ou constitua uma nova união estável. Se isso ocorrer, o direito de habitação é automaticamente extinto.

Proteção ao Cônjuge e Filhos Menores

Além do direito real de habitação do cônjuge sobrevivente, a legislação brasileira também protege a moradia da família em outras situações, como no caso de divórcio ou dissolução de união estável. Nessas situações, o juiz pode determinar que a residência familiar seja destinada ao cônjuge que ficará com a guarda dos filhos menores ou dependentes.

Jurisprudência

 

A jurisprudência brasileira tem reforçado a aplicação do direito real de habitação do cônjuge sobrevivente, garantindo que este direito seja respeitado mesmo diante de disputas entre herdeiros. Os tribunais geralmente priorizam a manutenção do cônjuge sobrevivente no imóvel que servia de residência familiar, protegendo assim o seu direito à moradia digna. Vejamos:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – INVENTÁRIO – ÚNICO BEM IMÓVEL A INVENTARIAR – PEDIDO DE DESOCUPAÇÃO E TROCA DAS CHAVES – IMPOSSIBILIDADE – DIREITO REAL DE HABITAÇÃO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE – AUSÊNCIA DE PROVAS DE QUE A VIÚVA RESIDE EM LOCALIDADE DIVERSA – DECISÃO MANTIDA. À mingua de provas contundentes de que a viúva não reside mais no único bem deixado pelo falecido esposo, deve ser indeferido o pedido da inventariante de desocupação do imóvel e troca das fechaduras, de modo a garantir à viúva o direito real de habitação previsto no art. 1.831 do CC/2002, sendo certo que o instituto independe do regime de bens e se destina a dar efetividade ao direito à moradia, constitucionalmente garantido. (TJ-MG – AI: 10011150022173002 MG, Relator: Peixoto Henriques, Data de Julgamento: 21/08/2018, Data de Publicação: 27/08/2018)

 

Considerações Adicionais

 

Outros Herdeiros: Embora o direito de habitação seja garantido ao cônjuge sobrevivente, os demais herdeiros não são privados de seus direitos hereditários sobre o imóvel. Eles continuam sendo proprietários da fração do bem que lhes cabe, mas o cônjuge sobrevivente tem o direito de permanecer no imóvel enquanto viver ou até que constitua nova união.

Imóvel Gravado com Dívidas: Se o imóvel estiver gravado com dívidas, como hipoteca, o direito de habitação do cônjuge sobrevivente pode ser afetado. Nesses casos, é necessário um exame mais detalhado das condições e das dívidas para determinar como proceder.

Conclusão

 

O direito real de habitação do cônjuge sobrevivente é uma importante proteção legal que visa assegurar a estabilidade e segurança do cônjuge após a perda do parceiro. Essa garantia busca evitar que o cônjuge sobrevivente fique desamparado e sem um lugar digno para morar, refletindo o compromisso da legislação brasileira com a proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana.

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